Podemos admitir que existe um fascínio da indústria do cinema pela Segunda Guerra Mundial.
Eu própria tenho esse interesse, é um período terrível na história da humanidade que desperta muita curiosidade.
Há outro acontecimento de que percebi que tenho um igual ou maior fascínio: a crise de 2008, mais concretamente a queda da Lehman Brothers.
Onde nasceu este interesse? Porque o vivi, passei pela crise e não percebi o que se estava a passar. Hollywood também se interessou no tema pois queria responder à pergunta que todos pensavam: como é que ninguém antecipou este acontecimento desastroso?
Sabendo que gosto do tema, já “The Big Short” imensas vezes e por vezes quero recordar o “Too Big too Fail” ou o “Margin Call” - filmes que tentam captar os acontecimentos da queda de Wall Street em 2008.
Apesar deste meu estudo, havia um filme sempre mencionado como o melhor a retratar a crise de 2008: “Inside Job”, um documentário narrado pelo Matt Damon e que ganhou o Óscar de Melhor Documentário em 2011.
Demorou mas conseguimos! Ele está disponível na Netflix e prontamente o vi.
É incrível, é melhor do que estava à espera.
Pensei que já sabia tudo, mas ele mostra realmente uma outra parte do sistema.
Ele está dividido em 5 partes: como chegamos até aqui, a Bolha, a Crise, quem tem a Responsabilidade e onde estamos agora.
Não quero levantar muito o véu, quero mesmo que vejas.
Deixo o alerta de que o documentário trata a crise nos Estados Unidos e que na Europa as coisas ocorreram de maneira diferente, temos diferentes leis, diferentes resultados.
No entanto, quero-te falar de um exemplo apresentado.
Sabemos pelo filme “The Big Short” que o preço das casas subiu drasticamente em poucos meses e que foram dados créditos à habitação com poucas diligências.
Havia pessoas sem trabalho, e sem património (o chamados NINJAs), sem qualquer tipo de documentação para mostrar aos bancos garantias de que conseguiam pagar as prestações mensais daquele empréstimos - essas pessoas conseguiam comprar casa
O documentário diz que a média de financiamento de uma casa era 99,3%.
Consegues perceber este valor? Podes ler o artigo sobre percentagens e ver melhor isto.
Imagina que fosse hoje e querias comprar uma casa.
Vais ao banco, quero comprar uma casa quanto custa? 150.000 euros!
Se o banco financiar 99.3% do valor da casa, o banco financia…148.950 euros. Quanto tens de dar de entrada? 1050 euros.
Sim, lês-te bem.
Era possível o banco dar-te uma grande parte desse dinheiro para comprares cada e “só” tinhas de dar 1050 euros de entrada. Quantos jovens conseguiam comprar casa nestas condições? Possivelmente muitos!
É dinheiro que o banco dá, como não irias aceitar? Nem precisavas de provar que tinhas um emprego ou outro património. Vai viver o sonho de teres casa própria!
O problemas eram as letras miudinhas. As contas diziam-te que só irias pagar 2000 euros por mês, e depois da primeira fatura apareciam…4050 para pagar, mais do dobro! Como irias arranjar dinheiro? Não ias, não conseguias pagar, a casa tinha de ser vendida.
Foi um risco do sistema. Construíram-se produtos em cima da capacidade das pessoas pagarem a renda, no final muita gente deixou de pagar, os produtos afinal valiam zero, os bancos ficaram expostos e o sistema foi abaixo.
Há outros pontos que adorei conhecer, como a relação entre os governos, os bancos e as universidades e como é que a regulamentação financeira ainda não chegou ao Estados Unidos.
Tenho imensa curiosidade para perceber melhor sobre este passado para entender como funciona o futuro. Deixo a dica para o veres também.
Excelente trabalho.
É, certamente, um grande documentário 👌.
No entanto, acho que o seguinte parágrafo merecia ser estendido:
"O problema não foi as letras miudinhas. As contas diziam-te que só irias pagar 2000 euros por mês, e depois da primeira fatura apareciam… 4050 para pagar, mais do dobro!"
O problema na realidade não foram as letras miudinhas, mas a geral literacia financeira das pessoas.
O valor dos empréstimos não passou de $2000 para $4000 de um dia para o outro. Muitos dos empréstimos eram "interest only" (muito comum nos US e UK), que faz com que o empréstimo a pagar mensalmente seja sobre o valor do juro (prestação muito mais baixa), e provavelmente muitos dos empréstimos tinha uma fixed rate baixa, diria de 2 ou 3 anos. Com a estagnação do mercado imobiliário, os preços estabilizaram, depois caíram, as interest rates aumentaram, o que fez com que pessoas sem equity no empréstimo (devido as empréstimos quase sem depósito), passassem a ter automaticamente equity negativa no momento em que a fixed rate terminou, passando assim a dever ainda mais do que deviam inicialmente (dado que o imóvel agora vale menos e tem taxas de juro mais altas), que resulta num pagamento mensal muito mais elevado.
Se, por exemplo, uma pessoa tivesse feito o mesmo empréstimo a 10 anos, "provavelmente" (se conseguisse suportar o empréstimo original de $2000 durante esse tempo), não teria tido grande problema. O governo aumentou de forma tremenda a sua dívida pública, fez bailout dos bancos), os mercados eventualmente "recuperaram", essas pessoas podiam ter feito pagamentos sobre o principal, decorridos os 10 anos, iriam reavaliar o empréstimo, onde teriam agora muito mais equity sobre o imóvel e taxas de juros historicamente baixas.
Obrigado,
Cumprimentos,
Rita tenho de te agradecer! O meu cérebro desbloqueia mais um bocadinho de cada vez que leio a tua newsletter. Obrigada 🙏