É oficial: já estamos em contagem decrescente para o Natal.
E por isso podemos também festejar o “início da época do consumo”!
Não há grandes surpresas neste campo: considerando o Natal e a passagem de ano, há muitas compras a fazer. Comida, prendas, roupa, decorações. O subsídio de Natal que se recebe em novembro já está a prever que vai haver muitos gastos.
No entanto, estão a aparecer mais eventos que incentivam ao consumismo.
Desde a pandemia que podemos notar em algumas mudanças de hábitos.
As decorações de Natal e os chocolates aparecem em alguns supermercados antes de novembro, movendo os consumidores a comprarem mais cedo do que o habitual.
Além disso, Portugal, à semelhança de outros países, importou o conceito da Black Friday dos Estados Unidos, um dia com saldos e descontos que ocorre na sexta-feira após o dia de Ação de Graças (Thanksgiving, nos EUA). Como é o dia mais atarefado em termos de comércio no país, muitos começaram a adoptar o dia para melhorar as vendas das suas lojas.
A Black Friday continua até à segunda-feira seguinte, a Cyber Monday, passando a ser um fim-de-semana em que muitos aproveitam para fazer as suas compras de Natal.
O que está a acontecer? Passamos a um mês de consumo, a dois meses de consumo. Mesmo achando que os portugueses fazem as compras à última da hora (basta visitar o Colombo dia 22 de dezembro), estes estão cada vez mais atentos a campanhas da Black Friday.
Não tenho nada contra a Black Friday - até pode ser bastante útil.
Se já tens uma lista pensada de compras, sabes os preços iniciais, tens um orçamento feito e esperas na Black Friday fazer as compras que querias fazer, gastando menos - parece-me ótimo!
O que deves ter em atenção é os efeitos secundários. Estas promoções podem-te levar a consumir mais.
Quando fazes compras, há uma satisfação de teres feito um bom negócio. É quase um segredo de um quão esperto tu és. Afinal, compraste a mesma coisa, mas mais barata. E isso pode-te motivar a comprar mais, porque gastando mais 20 euros aqui ou ali, que diferença é que faz?
Um dos problemas do consumismo é que gastamos dinheiro em que coisas que não queremos, ocupamos a casa com coisas que não nos interessam, criando um ruído mental de manter aquelas coisas porque gastamos dinheiro para usar algo que não usamos mesmo.
De nada vale separares-te do teu dinheiro para coisas que não vão ser tão úteis na nossa vida - e não te vão trazer felicidade.
Pensando na época que está aí à porta, eis algumas dicas para moderar o consumo:
Distingue necessidade de desejo - preciso mesmo disto ou simplesmente quero isto?
Assumir as compras de desejo - se queres comprar algo simplesmente porque queres, força! Assume essa despesa, assume a responsabilidade de gastares tu o teu dinheiro
Pensa no ciclo de vida do produto: comprar um casaco de inverno de 150 euros e que vai durar pelo menos 10 anos é uma boa aposta. Vais usá-lo mais vezes, e custa “apenas” 15 euros ao ano.
Compara preços: vê se um artigo tem variação de preço ao longo do tempo para ver a melhor altura para o comprares.
Troca 1 por 1: de forma a teres menos coisas em casa, por cada coisa que compres, vende ou dá outra.
Escolhe bons materiais: na roupa, materiais naturais como algodão e lã garantem conforto e durabilidade e até podem ser mais sustentáveis. É mais fácil reciclar uma peça 100% de um material do que mistura de materiais, se possível.
Compra presentes que desaparecem com uso, como comida ou cosméticos.
Boa Black Friday com boas compras, para ti!
Moderar o consumismo, em época festiva, requer a mesma disciplina e consistência que no restante ano. Saber resistir ás tentações da junk food (aka fast food), da doçaria dita tradicional, dos chocolates, da alimentação inflamatória, de um estilo de vida acima das reais possibilidades financeiras, com acesso ilimitado e desnecessário a redes sociais, a canais premium, a séries televisivas que nos iludem com visões de luxo, ociosidade, fantasia e violência emocional e física, é muito, muito, muito duro, e difícil. Mas possível. Exercício físico, autocuidado emocional, dieta adequada e regulada, resultam, no meu caso.