A literacia financeira é uma jornada para o resto da vida. O caminho faz-se caminhado e vai sempre haver peripécias.
Todos os anos há um novo plano, um orçamento, que te guia nas tuas despesas, poupanças e investimentos. Aparecem novos projetos na vida, como nova casa, filhos, mudanças de sítio, envelhecimento, ajudar familiares. Cada projeto vai precisar do teu tempo e possivelmente dinheiro.
Parece que estás a ser esmagado, puxado em vários direções e o dinheiro não chega, como se a manta que puxas para cima para aquecer o tronco deixa-te os pés destapados.
E já para não falar dos imprevistos, qual lei de Murphy. Se estás num momento mau, algo mau vai acontecer, com certeza.
O que te quero dizer é que é normal a vida parecer desequilibrada.
Porque há momentos para tudo. Vai haver uma altura em que está tudo mal, e depois parece que está mais calmo, e volta a ser intenso.
No entanto, não penses que estás a falhar.
Não deves olhar para o equilíbrio como uma coisa de semanas ou meses. Arrisco-me a dizer que penses em anos!
Faz todo o sentido ter períodos de mais gastos com crianças pequenas, ou o teu crédito habitação custar mais nos primeiros anos. É um período, vai ter um princípio, um meio e um fim. E quando acabar, aparece outro desafio.
O que deves fazer é 1) preparar-te para esses desafios 2) aceitar quando eles aparecem 3) agir para te levantares e recomeçares.
Uma das frases que me recordo sobre falhar é desta cena do filme “Rocky Balboa”.
O Rocky explica ao seu filho que a vida é tramada. Que é a maior chapada que vais levar na vida.
Não há aquele ditado que diz “se queres por Deus a rir, conta-lhe os teus planos”, ou algo assim?
O mesmo se passa com a vida. Queres obter equilíbrio nas finanças pessoais? Conta-lhe os teus planos, é provável que muita coisa não aconteça como estás a pensar.
O Rocky sabe isso - e diz-te:
You, me, or nobody is gonna hit as hard as life. But it ain’t about how hard ya hit. It’s about how hard you can get hit and keep moving forward.
Os desafios financeiros vão-te apanhar despercebida, com certeza. A questão é: quando tempo demoras a recuperar? No barco à deriva, agarras o leme com força? Sabes quando as piores fases passarão?
Sei que este artigo parece conversa da treta, meio inspiracional-coiso. Desculpa, não devias estar à espera disso.
Porém, era algo que queria partilhar contigo, porque também me sinto assim.
Será que estou a seguir os meus objetivos de investimento, quando já passaram dois meses do ano e não fiz o que tinha no plano?
Será que estou a pensar no meu orçamento de viagens, quando comprei coisas que não tinha pensado?
Será que estou a respeitar o tempo de descanso das férias, mas ainda não pensei em nada?
Nestes momentos, faço um ponto de situação.
Poderia ser melhor? Completamente.
Poderia ser pior? Provavelmente.
Poderia ser muito pior? Com certeza.
Respiro fundo e penso no presente. Eu estou bem. Já faz muito na minha caminhada e há erros que já não cometo, porque já me conheço, sei o que é necessidade, o que me dá prazer e o que é fútil gastar tempo e dinheiro.
Nesse caminho, por vezes há desvios. Fiz uma despesa que não queria e está tudo bem. Não preparei as férias como queria, está tudo bem. Vou anotar, vou aprender, vou melhorar.
Vou identificar as minhas necessidades emocionais e responder de acordo com elas. Vou gastar impunemente no que me faz feliz, e cortar no que não faz sentido.
E vai correr mal.
Vai haver semanas em que gasto dinheiro em roupa e acho que está a ser demais. Que tenho sapatos e malas a mais, e comprei mais um. Vou tomar o pequeno-almoço sempre fora e gastar à toa. Vou marcar as férias em cima da hora. Vou chegar ao final do ano e ainda não decidi se faço um PPR ou reforço os ETFs. E possivelmente adiei em organizar a casa e comprei uma nova gadget de cozinha que mal uso.
É isso, vai correr mal. Se vai haver momentos de desalinhamento? Ah pois vai!
Vai haver bofetadas, o que importa é se te levantas logo e tomas as rédeas ou se continuas a navegar sem destino.
É isto que podes procurar. O bom e o mau, em equilíbrio. Não todas as semanas, sim no longo prazo.
Ótimo texto! É definitivamente um equilíbrio complicado e oscilo sempre mais para o sentimento de culpa - perdemos com frequência a noção do quanto de bem que estamos a fazer já.