O Relatório sobre Mulheres e Riqueza
A Portuguese Women in Tech lançou recentemente um relatório sobre a relação entre o dinheiro e as mulheres.
Se já sabíamos que os níveis de literacia financeira em Portugal eram os mais baixos da Europa, o que se pode dizer sobre a relação das portuguesas com o dinheiro?
Houve dados que me surpreenderam pela positiva e outros que me fizeram suspirar.
Estes são os grandes destaques:
A maior parte das mulheres inquiridas (53,9%) diz ter apenas conhecimentos básicos relacionados com literacia financeira. Apenas 5,2% assume conhecimentos avançados;
Mais de metade das inquiridas (63,6%) não tem qualquer contribuição para as decisões financeiras na sua empresa. Só 7,2% diz ser a principal responsável pelas decisões financeiras no contexto laboral;
Entre as mulheres que afirmam ser as principais responsáveis pelas decisões financeiras na sua empresa, uma percentagem muito significativa (72,7%) afirma ter apenas conhecimentos básicos relacionados com literacia financeira;
Já em relação às mulheres que dizem ser as principais responsáveis pelas decisões a nível financeiro no seu agregado familiar, 57,4% tem conhecimentos básicos ou não tem quaisquer conhecimentos relacionados com literacia financeira;
Mais de metade das inquiridas (58,5%) não considera que o salário que recebe neste momento é justo, considerando as suas capacidades/conhecimentos/função;
Do grupo de mulheres que consideram que o salário que recebem neste momento não é justo, mais de metade (55,6%) nunca tentou negociar o seu salário, sendo que 30% destas aponta falta de segurança para o fazer;
Apesar de 51,3% das inquiridas já ter tido uma ideia de negócio, 53,2% assume não ter avançado de todo com essa ideia, sendo que, destas, 64,3% confessa falta de segurança, 58,9% desafios a nível financeiro e 44,6% falta de conhecimento;
A esmagadora maioria das mulheres inquiridas (79,2%) afirma estar aquém das suas ambições financeiras.
A falta de conhecimento leva a atitudes mais conservadoras
Uma das palavras mais utilizadas nos destaques acima é “segurança”.
Os últimos meses têm-se falado muito dos salários baixos dos portugueses e deve-se acrescentar que o diferencial remuneratório entre homens e mulheres continua a diminuir, mas ainda está nos 17%. Se pensas que um homem ganha pouco, pensa então que a mulher ganha dezenas de euros menos.
Com poucos recursos, muitas mulheres privilegiam a segurança de ganhar pouco com o arriscar a ganhar mais.
Os riscos são extremamente elevados para quem perder 10 ou 20 euros é a diferença entre comer ou não comer.
O pouco que têm já não chega para o dia-a-dia. Se esse pouco diminuir ou desaparecer, é o fim de uma família.
A segurança também é um aspeto emocional e vê-se isso na negociação de salário.
Mesmo sabendo que ganham menos do que deviam, mais de metade das mulheres não tenta pedir um aumento porque não tem segurança para o fazer.
Sente que não tem capacidade de argumentação, não acredita nas suas capacidades, tem medo de represálias (talvez possa pensar: se o meu patrão até estava contente comigo, mas eu pedi um aumento e ele despede-me?).
É preciso investir fortemente na literacia financeira. No caso feminino, já se vê os resultados positivos de várias iniciativas. Contudo, há um enorme caminho a percorrer, no plano material e no plano emocional - na “psicologia do dinheiro”.
O relatório conclui com o caminho a tomar:
Mais e melhor conhecimento financeiro trará mais segurança, mais confiança, maior disposição para arriscar. Traduzir-se-á, ainda, em decisões financeiras mais estratégicas e, portanto, decisões com maior potencial de sucesso.
E eu acrescento: esse melhor conhecimento financeiro vai passar para a próxima geração, que pode influenciar a tomar-se melhores decisões financeiras, económicas, sociais e políticas para o país.