Este ano só passaram seis meses e o registo de viagens é alto. Fui ao Porto duas vezes, visitei os Estados Unidos e a Alemanha. Sempre gostei de viajar, mas nem sempre consegui desfrutar plenamente da experiência.
Isto porque antes a ansiedade financeira dominava meus pensamentos.
Cada euro gasto parecia mais um passo na ruína financeira. Era muito consciente do que estava a gastar e procurava entender o “retorno” daqueles euros gastos no almoço num café em Madrid.
Não estava a viver o presente, não estava a aproveitar os momentos.
Este ano algo mudou.
Com a mente tranquila e uma vida financeira organizada, tenho conseguido viajar e aproveitar as experiências. E com elas vieram algumas lições interessantes sobre finanças pessoais.
O luxo de viver com menos.
Quando viajamos, somos forçados a caber a vida numa mala. Começamos o exercício mental de distinguir o essencial do acessório.
Na viagem aos Estados Unidos, nem levei mala de porão: uma mochila de 30 litros para levar às costas tinha de levar tudo e trazer souvenires na volta.
Esta limitação fez descobrir duas coisas:
Uma mala bem organizada é surpreendentemente suficiente.
Se alguma coisa não essencial faltar, é sempre possível comprar.
Faltou a pasta de dentes? Compra o tamanho mais pequeno só para safar. Hashtag vaicorrertudobem, como diziam em tempos.
A simplicidade dos quartos de hotel também me faz refletir sobre o valor prático de possuir menos. Quando volto a casa, frequentemente sinto-me sobrecarregada com a quantidade de objetos que acumulei. Claro que o lar é completamente diferente da mochila de viagem, mas entro em casa com aquele sentimento de que se tivesse menos coisas, seria mais fácil ter tudo organizado sem descurar o conforto.
Por isso se tens de arrumar o quarto e não te apetece, vai viajar e voltas com a motivação necessária para o fazer (estou a brincar, é muito mais barato engolir o sapo, meter uma playlist e enfrentar a gaveta das meias uma vez por todas).
A arte de nos adaptarmos a qualquer circunstância.
O "desenrascanço" está no ADN português – é um super poder que nos distingue de outros povos. Como se fôssemos mestres a fazer omeletes sem ovos e mesmo assim saem omeletes muito boas (nota Satisfaz Bastante, vá).
Em viagem, podemos ter planos detalhados sobre onde comer ou o que visitar, mas a verdadeira arte está na adaptação. Museu fechado? Fazemos outra coisa. Sem vontade de gastar em restaurantes? Ir ao supermercado ou aproveitar a food truck local.
Surgem várias desafios e treinamos o músculo de fazer diferente e sair da zona de conforto. Aprendemos a ler a rede de metro, a orientarmo-nos pelas ruas de noite, a fazer atalhos e a entender como funciona.
E quando temos de enfrentar obstáculos linguísticos, encontramos soluções: gestos, apontar para o que queremos, ou usar tradutores no telemóvel. Sempre ouvi dizer "quem tem boca vai a Roma" – por isso viajamos com a capacidade de resolver qualquer problema.
O investimento de viajar
Será viajar um investimento? Não. No entanto, paga dividendos muito interessantes.
Viajar está muito associado a momento de lazer e espero que continue assim. O descanso mental é mesmo importante e quando mudas de ambiente a tua energia recarrega.
E viajar também pode ser aprender. Mesmo ficando dentro do país, ou indo a restaurantes do bairro, conhecer novos lugares faz-te ganhar mundo.
O que é isto de ganhar mundo? É olhar para as coisas de uma perspectiva diferente.
A empatizar com as situações. A conhecer o contexto do outro. Ao ampliarmos o nosso conhecimento (e este conhecimento é experienciado na vida real, não no mundo digital), tornamo-nos adaptáveis e reduzimos os pré-conceitos que temos.
No fundo é uma “terapia” da mente e do corpo. Sair do nosso elemento para ver mais e voltar com uma perspectiva diferente.
É possível viajar sem comprometer a carteira? Sim é. E deveria ter sabido isto antes.
A minha ansiedade financeira ao viajar poderia ter sido diminuida se eu me tivesse organizado melhor. Há algumas coisas que gostava de ter sabido antes e que te pode ajudar:
Planear com antecedência: se consegues, faz mesmo isto. Eu marquei a viagem aos EUA em outubro, para viajar em março. Continuava a trabalhar com a cenourinha de que iria descansar daí a uns tempos.
Tentar viajar fora da época alta: sei que nem todos conseguem, porém esta dica faz mesmo a diferença pois poucas centenas de euros.
Estabelece um orçamento diário: podes definir como fazer as refeições, se andas de transportes públicos, ou de carro. Vai mesmo ajudar a reduzir a tua ansiedade se planeares mais ou menos quanto estás disposto a gastar.
Passa a frente as souvenires: as lojas de souvenires estão mesmo desenhadas para quereres levar as t-shirts, as tote bags, e a caneca. Nem tudo vai caber na mala ou nem sempre as vais usar. Faz também um orçamento nesta parte.
Escolhe atrações sem custos, como parques, museis e tours a pé. Confesso que ainda não fiz nenhuma tour, mas já vi que claramente compensa gastar 2 horas a conhecer os pontos principais da cidade, com companhia de quem conhece.
É possível viajar sem ficar pobre? Sim.
É possível viajar com menos ansiedade, a pensar onde se vai por cada euro? Sim, sem dúvida.
Planear com antecedência, fazer um orçamento e poupar para o grande momento são pequenos passos que me ajudaram muito a embarcar e disfrutar do momento, sem sacrificar a vida financeira. No fim, regresso a casa contente e mais rica (de mundo, pelo menos!).