Que raio se passa com os certificados de aforro?
O tema já tem algumas semanas. Considera este resumo o teu boletim informativo para perceber o drama.
O tema já tem algumas semanas. Há quem esteja a ver o filme todo. Há quem não perceba nada. e Há quem esteja completamente fora desta animação. Vamos resumir o mínimo dos mínimos. Considera o teu boletim informativo para perceber o drama.
O que são certificados de aforro?
São um instrumento de dívida para ajudar as famílias a poupar. Quem subscreve certificados, está a ajudar o Estado, o Estado usa o dinheiro para se financiar e em troca paga juros.
Porque são conhecidos?
Eu conheci estes produtos financeiros pelos meus avós e são considerados os “produtos mais seguros do mundo”.
Vá, vou explicar melhor.
Quando se trata de investimentos, os portugueses são muito conservadores.
Ganham pouco, poupam pouco, pensam pouco na reforma, têm medo de perder o dinheiro. Então os produtos financeiros mais utilizados são os depósitos (mais de 80% das famílias poupam assim) e os certificados de aforro.
Os certificados de aforro são de capital garantido. Quem coloca 300 euros, ao final de 10 anos, tem lá os 300 euros, mais uns pózinhos extra, esperamos. Além disso, o garante é o Estado Português. Só não recebes o dinheiro se o Estado for à falência, o que já aconteceu…zero vezes.
Como é que os certificados se tornaram na última Coca-Cola do deserto?
Os certificados andam nas bocas da atualidade porque, tal como o ECO explica, “a taxa de juro dos Certificados de Aforro tem em conta a média dos valores da taxa Euribor a três meses observados nos dez dias úteis anteriores ao penúltimo dia útil de cada mês acrescido de um prémio de 1%”.
Como sabes as taxas de Euribor estão a subir - elas fazem com que pagues mais pelo teu crédito habitação e também aumentam a remuneração dos certificados.
Em janeiro de 2022, a remuneração era de 0,41%. Já em março de 2023, a remuneração passou para 3,5%. É uma diferença enorme na multiplicação do dinheiro!
Há quem esteja a retirar dinheiro dos depósitos para subscrever os certificados de aforro?
Pode-se dizer que o comportamento observado mostra que há uma corrida aos certificados.
Segundo o Banco de Portugal, os certificados de aforro da série E tinham um stock de 30,3 mil milhões de euros. Nos primeiros quatro meses de 2023, acumularam mais de 11 mil milhões - ou seja, mais de um terço do montante foi subscrito em apenas quatro meses.
Ora é fácil perceber porquê. Comparando com as ofertas do mercado, que há uns meses mal se encontrava um depósito a prazo de um banco acima de 1%, quando “aparece” um produto totalmente seguro com valorização a 3%, é normal que as pessoas corram a retirar o dinheiro dos depósitos para colocarem nos certificados.
O que aconteceu agora?
Isto tudo estava a andar muito bem para o lado das famílias até que, no início de junho, o Estado suspendeu a série E para iniciar a série F, sendo que esta nova série tem regras diferentes.
O Pedro Andersson resumiu os pontos principais:
Passam de 15 anos para 10;
De 3,5% de juros, passa para 2,5% de juros, anualmente;
A fórmula de cálculo é igual (Euribor a 3 meses + prémio de permanência);
Produto garantido igual, não pode descer abaixo de zero;
Mínimo de subscrição: 100 euros;
O máximo é diferente: o limite máximo passa para 50 mil euros (ao contrário de 250 mil euros).
Quais são as críticas?
Não vou pegar na forma como o Governo fez a comunicação. Já as críticas de algumas representantes de partidos e comentadores da praça é que isto é uma má notícia para os pequenos aforradores.
Tinham um produto melhor na série anterior e agora têm um produto menos bom com mais limitações. Numa altura em que a inflação ainda está bastante alta, quer dizer que as pessoas perderam algum capital na criação da poupança.
Do lado do Estado, se ele consegue ir buscar dinheiro mais barato lá fora, então não vale a pena estar a remunerar tanto para ir buscar cá dentro. Também o Estado financiar-se de forma mais barata é uma boa ideia.
No entanto, o caso não fica para aqui. Parece que os bancos é que são os donos disto tudo.
Segundo a comunicação social, parece que o Estado estava a receber críticas dos Bancos que estavam a ter um produto mais rentável do que os seus depósitos a prazo, como que a fazer concorrência.
Com o fim da série E, o Estado criou um novo produto que valoriza menos, mas que continua a ser interessante. E os bancos não têm tanta concorrência.
A verdade é que os bancos não estão interessados em valorizar os depósitos pois estão bem capitalizados. Se a série E tivesse continuado por mais os meses, talvez os Bancos revissem a sua estratégia. Contudo, tal não acontece. Parece que o Estado sucumbiu a alguma pressão não é? O Governo nega, mas cada um tem a sua leitura.
Trocando por miúdos, o que é que eu preciso de fazer?
Uma lição importante a reter deste conto é que continuamos com baixa literacia financeira. É preciso desenvolver a competência de estar atento ao mercado, perceber os produtos e diversificar a poupança. É preciso mexermo-nos quando se trata do nosso dinheiro.
O que podes fazer agora é se não aproveitas a onda anterior, aproveita a próxima, pois já sabes que pode acabar.
Eu consegui subscrever à série E com 300 euros. Não é um valor fantástico, é qualquer coisa. Mas mexi-me quando poderia ser uma boa oportunidade.
No vídeo que partilhei, o Pedro Andersson fala disso mesmo:
“Quando falamos em finanças pessoais é muito importante nós decidirmos na altura adequada de acordo com a informação e as condições que temos no momento. Naquela altura era o melhor produto, tiramos o nosso dinheiro de onde está e pomos naquele que nos rende mais. Daqui a seis meses, daqui a um ano, daqui a uma semana, encontramos um produto que rende mais do que aquele que nós temos, estamos à espera de quê? É tirar o dinheiro e colocar no outro. Quando ficamos com receio de nos mexermos, perdemos dinheiro”
Parece uma skill muito difícil, mas o primeiro passo que se deve dar, quer sejam certificados, poupança, orçamento familiar, ou outros, é agir!