Eu e a minha mesada
A mesada, a mesada. Um tema com pano para mangas. Vale a pena ter mesada? De que forma? Quando é que se começa? Qual é o melhor valor?
A mesada, a mesada. Um tema com pano para mangas.
Vale a pena ter mesada? De que forma? Quando é que se começa? Qual é o melhor valor?
O que posso fazer é partilhar a minha história. Que é só minha, e resultou para mim.
Resultou, mas só sabes muito tempo depois que resultou. Tens mesada em criança, aprendes a mexer em adolescente e em adulto vês se isso te ajudou na tua relação com o dinheiro.
Cada um tem a sua relação com o dinheiro e, neste tema, não há respostas certas ou erradas.
No meu caso, a experiência foi positiva (quando aprendi alguma coisa) e negativa (quando não me deixavam gastar a mesada naquele CD fixe).
O que era a minha mesada
Devo ter começado a receber mesada com 10 anos, talvez. E sim, era mesada, de “receber ao mês”, uns fantásticos 10 euros.
Não usava o dinheiro para o passe de transportes ou para o lanche da escola. Os 10 euros eram guardados ou gastos nos lanches semanais com a minha amiga Mariana antes das aulas de Inglês no instituto ao pé de casa. Podia também comprar um gelado com a minha mesada. No entanto, todas as minhas necessidades básicas estavam asseguradas pelas meus pais. Este bocadinho todos os meses era mesmo um exercício controlado para eu começar a perceber a dinâmica do dinheiro.
E só recebia esses 10 euros.Não era compensada por bons resultados na escola ou por tarefas domésticas ou pela fada do dente. Recebia 10 euros por mês, tinha limitações no que gastar. No entanto, receber um pouco todos os meses foi o início da minha relação com o dinheiro.
A montanha russa de ter e não ter
Olhando para trás, ter mesada, mesmo com limitações, fez-me aprender imenso. Porque passei por diversas experiências.
Adorava abrir a caixa vermelha e ver lá dinheiro, como um resultados dos meus esforços de poupança.
Adorava contar nota a nota, moeda a moeda e ver que tinha mais do que tinha pensado.
Adorava saber que queria comprar um CD e que tinha dinheiro para comprar e ainda poupava.
Esses sentimentos eram incríveis. No entanto, também aprendi o reverso da medalha.
Quando tinha muito, estava segura de que poderia gastar e gastava. Passado umas semanas, via que tinha muito menos do que estava à espera e ficava preocupada. Assim, tinha de parar para poder voltar a estar onde estava.
E claro tive o momento mais marcante de todos.
O dia em que o mealheiro estava vazio
Tinha guardado tanto dinheiro por isso podia gastar. Até ao dia em que o mealheiro estava vazio.
Sim, vazio. Apenas restava uma moeda de 10 cêntimos, comprava duas pastilhas no máximo.
O que se tinha passado? Há pouco tempo tinha tanto e agora não tinha nada. E faltava imenso para o mês acabar.
Foi essa a lição que melhor aprendi de ter mesada: que o dinheiro pode chegar ao fim.
Então fui pedir mais aos meus pais e a resposta foi um redondo não. “Agora esperas até ao final do mês para receberes”.
Esta espera, esta falta de solução, foi das melhores memórias que tenho. E aprendi que:
O dinheiro chega ao fim;
O dinheiro pode não chegar todo para o mês;
Se só gastar e não poupar, o dinheiro desaparece;
Se quero ter mais, tenho de pedir e posso receber um não;
Para o dinheiro aguentar mais tempo, tenho de gerir melhor os gastos.
Qual a abordagem correta?
Estas lições ficaram comigo até à idade adulta.
Quando olho para a minha conta bancária, digo que tenho pouco quando baixo de um valor que eu acho aceitável. Faço o orçamento todos os meses e defino que no próximo tenho de poupar mais.
Se tenho uma despesa maior, olho logo para o extracto e sei que tenho de melhorar. E gosto de fazer poupanças automáticas para no futuro olhar e ver que afinal até estou a poupar bastante!
Claro que em criança era mais fácil.
Não tinha responsabilidades, não pagava contas e não estava a usar o dinheiro para a minha sobrevivência. Por isso este exercício foi feito num ambiente muito muito controlado e que a hipótese de falhar não era uma questão de vida ou de morte.
E ainda assim eu aprendi coisas. Essa é a enorme mais valia de ter uma mesada ou semanada em pequeno, poder-se aprender cedo como é gerir o dinheiro.
Se é possível aprender com pequenas quantias e com pouco risco, quando “a vida a valer” aparece, podemos ter melhores ferramentas para gerir o dinheiro.
Esta é a minha experiência altamente privilegiada. Há quem não consiga dar semanada aos filhos. Ou para quem a experiência não corre bem. Ou há quem prefira outros métodos e que se aprenda os mesmos princípios de outra maneira.
O que posso partilhar é que ter mesada pode ser um ótimo instrumento para dar às crianças uma introdução ao dinheiro e aos conceitos de gastar e poupar. Podem ser bastante úteis para o futuro.